Dentro de aceleradores, partículas são impulsionadas até velocidades próximas à da luz, quando se chocam umas com as outras, dando origem a novas partículas. O evento é, então, captado por detectores, que são capazes de registrar grande parte dos desdobramentos da colisão — dados que, posteriormente, são analisados por cientistas na busca pela compreensão dos mecanismos mais básicos do universo. A dependência por equipamentos cada vez mais sofisticados faz com que a física de partículas experimental ande lado a lado com o desenvolvimento tecnológico de ponta, que avança a passos cada vez mais largos à medida que o fazer científico se torna um fazer colaborativo.
Na década seguinte à descoberta do méson pi, países europeus se mobilizaram para criar um laboratório internacional de pesquisa em física nuclear: da iniciativa, nasceu o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), em 1954, localizado na cidade de Genebra, na Suíça. O primeiro acelerador do CERN voltado para estudos em física de partículas foi criado em 1959 e, desde então, o centro europeu viria a abrigar muitas dessas grandes máquinas ao longo de sua história. Em 2008, foi fundado o famoso Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla inglesa), que ocupa até hoje a posição de maior e mais potente acelerador de partículas do mundo, operando em um túnel subterrâneo circular de 27 quilômetros de comprimento, entre as fronteiras da França e da Suíça. No LHC, quatro grandes detectores construídos com propósitos distintos monitoram as colisões de partículas, — seus nomes são ATLAS, CMS, ALICE e LHCb — provendo dados para cientistas de centenas de instituições ao redor do mundo, entre elas do Brasil.
O ATLAS (sigla inglesa para “Um Aparato Toroidal do LHC”) é um de dois detectores do LHC que serve para propósitos múltiplos, ele é capaz de observar, medir e armazenar dados sobre diversos tipos de eventos que ocorrem dentro do acelerador, atendendo às necessidades de pesquisas de diversos campos. O trabalho do professor Marco Leite está diretamente envolvido com o desenvolvimento de técnicas experimentais e instrumentação para a física de partículas:
Maria Beatriz Gay Ducati, do Instituto de Física da UFRGS, no Rio Grande do Sul, coordena um grupo de pesquisadores brasileiros em colaboração com o experimento ALICE. Ela explica: “O Plasma de Quarks e Glúons é um estado da matéria no qual estes constituintes não estão interligados formando partículas mensuráveis. Entende-se como um estado da matéria do início do Universo algo anterior a quando estes componentes se agruparam, dando origem às partículas. É um estado importante no estudo das etapas de evolução do Universo primordial”. Em sua pesquisa, a professora investiga a dinâmica de glúons, estudando o comportamento dessas partículas na formação de méson massivos, desenvolvendo descrições matemáticas de seu comportamento em condições extremas, e analisando sua produção no experimento ALICE.
O grupo liderado por Gay Ducati na UFRGS está envolvido no desenvolvimento de um novo instrumento para o ALICE, o Muon Forward Tracker (MFT). “Ele vai medir múons a pequenos ângulos antes não alcançados, e deverá contribuir para obter dados de eventos difrativos, importantes para complementar a descrição do comportamento dos glúons”. O MFT está atualmente em fase de conclusão e instalação, e a expectativa é que esse novo detector aumente a precisão do ALICE nas medidas de propriedades do Plasma de Quarks e Glúons, abrindo espaço para novas medições.
Reportagem: Ana Luiza Sério (ICTP-SAIFR), Artur Alegre (ICTP-SAIFR), Malena Stariolo (ICTP-SAIFR);
Consultoria Científica: Rogerio Rosenfeld (ICTP-SAIFR/IFT-UNESP);
Edição: Malena Stariolo (ICTP-SAIFR).