O começo da astronomia como um campo científico

Feche os olhos e imagine que você está no campo, à noite, longe de todas as luzes da cidade, e então você olha para cima. O que você irá ver? Muito provavelmente o brilho das estrelas irá dominar sua visão, talvez seja uma noite de luar, então você também verá esse majestoso astro. Mas o que existe para além do que conseguimos enxergar? O que existe além? O estudo dos astros e a busca do entendimento do Cosmos são atividades quase tão antigas quanto a história da humanidade. Viajantes podiam olhar para cima e ler um mapa nas estrelas, ou na direção do Sol, que iria indicar qual caminho estavam seguindo. Pessoas de diferentes crenças e sociedades tinham nos astros seres divinos que seriam responsáveis pela prosperidade ou pela decadência de nações inteiras.

O Universo sempre despertou medo e curiosidade, não por coincidência influenciou artistas, cientistas e curiosos na criação das mais diversas obras e gêneros ao longo da história. Desde o horror cósmico de Lovecraft, à ficção científica das viagens espaciais, até a música e o desenvolvimento da fotografia, a curiosidade sobre o que estava para além do céu azul visível se manteve presente. 

Na ciência, a busca por respostas para questionamentos, que chegam a ser até mesmo existenciais, marcou a história da Astronomia e permeia seus estudos até hoje. É aquela velha pergunta, eternizada por Douglas Adams: Qual é o significado da vida, do universo e tudo mais? Quanto mais especializada e desenvolvida a ciência se torna, mais respostas encontramos – entretanto, mais mistérios surgem. Se antes pensadores contavam apenas com a observação minuciosa, o pensamento lógico, e um ou outro aparato para fazer experimentações e anotações, hoje temos satélites em órbita, aceleradores de partículas, viagens espaciais e laboratórios subterrâneos. Entretanto, o objetivo final continua sendo o mesmo: entender a vida, o universo e tudo mais.

Seja de maneira científica ou não, o ser humano sempre foi impelido para correr atrás dessas respostas. No Brasil, os estudos do Cosmos existiam desde antes da invasão europeia. Um dos registros históricos mais importantes a tratar sobre o assunto é a obra de 1614 do padre francês Claude D’Abbeville, que relata os costumes de povos tupinambá que viviam na região do Maranhão, com quem teve contato durante uma viagem missionária em 1612.

No livro, que em 1874 ganhou sua primeira tradução para o português intitulada História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças, D’Abbeville apresenta detalhes importantes de conhecimentos astronômicos detidos por aqueles povos, como um conjunto próprio de constelações, sistemas de calendário baseados nos astros, e outros tipos de conhecimentos práticos que afetavam diretamente suas vidas diárias: a ligação entre estações do ano e épocas de colheita, fases da Lua e períodos de caça e pesca, por exemplo. Para os povos indígenas daquela época, suas relações com o céu estavam muito mais ligadas com questões de sua própria sobrevivência do que para os europeus que começavam a chegar em seu território.

Sob o domínio europeu, um dos passos iniciais rumo a uma Astronomia científica foi dado em 1639, com a instalação do primeiro observatório do país e do hemisfério sul, no Palácio de Friburgo, em Recife. A construção foi obra do astrônomo e cartógrafo Georg Markgraf (1610-1644) durante a ocupação holandesa e impulsionou o estudo dos astros nos séculos seguintes. Em 1827, D. Pedro I assinou um decreto que determinava a fundação do Imperial Observatório do Rio de Janeiro. Após a proclamação da república passou a ser chamado de Observatório do Rio de Janeiro e, em 1908, recebeu o nome de Observatório Nacional, que permanece até hoje. 

Na década de 60, com o retorno de pesquisadores que tinham se doutorado no exterior, as pesquisas, que até então estavam intrinsecamente conectadas com as atividades do Observatório Nacional, passaram a ser desenvolvidas em outros grupos e universidades. Ao voltarem para o Brasil, os novos doutores participaram da implementação de cursos de pós-graduação, o que efetivou as atividades profissionais de pesquisa astronômica, abrindo portas para o aperfeiçoamento e a internacionalização que cresceriam progressivamente nos próximos anos até os dias atuais.

A alma da nova astronomia brasileira foi certamente a pós-graduação. Isto equivale a dizer que a alma da nova astronomia brasileira foi a formação de pessoas. Prédios, bibliotecas, observatórios, instrumentos e computadores, claro, também são necessários, mas toda essa infraestrutura material só adquire vida através de pessoas.

Oscar Toshiaki Matsuura
na apresentação do livro História da Astronomia no Brasil

Para saber um pouco mais sobre os processos da Astronomia brasileira, seja sobre tópicos de pesquisa, seja em sua internacionalização, o ICTP-SAIFR organizou esse especial multimídia que cobrirá grandes campos da pesquisa astronômica nacional. O objetivo é proporcionar uma viagem pela Astronomia brasileira e pela atividade científica realizada no país. Por meio de vídeos, depoimentos de pesquisadores, imagens, textos e infográficos esperamos aproximar um pouco mais esse campo tão rico de todos que tiverem curiosidade.

Reportagem:
Ana Luiza Sério (ICTP-SAIFR), Artur Alegre (ICTP-SAIFR), Malena Stariolo (ICTP-SAIFR);
Consultoria Científica:
Roberto Costa(IAG-USP);
Edição:
Malena Stariolo (ICTP-SAIFR).

Reportagem:  Ana Luiza Sério (ICTP-SAIFR), Artur Alegre (ICTP-SAIFR), Malena Stariolo (ICTP-SAIFR);
Consultoria Científica: Roberto Costa(IAG-USP);
Edição: Malena Stariolo (ICTP-SAIFR).

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