Pesquisas Quânticas pelo Brasil
Há décadas, físicos brasileiros vêm contribuindo com a ciência e as tecnologias quânticas, obtendo resultados de relevância internacional. A trajetória dessa área no país começou com o trabalho de pioneiros como o físico Herch Moysés Nussenzveig (1933-2022), que introduziu a óptica quântica no Brasil no final dos anos 1970 e teve papel fundamental na consolidação das pesquisas nas décadas seguintes. Foi apenas no final dos anos 1990, porém, que os primeiros experimentos brasileiros com fótons emaranhados — realizados pelos grupos do físico Carlos Monken, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e do físico Luiz Davidovich, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — colocaram o país no mapa mundial das pesquisas em informação quântica. Esses avanços foram viabilizados, em parte, pelo financiamento de programas de apoio à pesquisa científica, como o PRONEX (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência), do governo federal, que permitiram a instalação de novos laboratórios.
Em 2001, surgiu a primeira grande iniciativa nacional na área, o Instituto do Milênio de Informação Quântica, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e pelo Banco Mundial. O projeto integrou grupos de pesquisa de diferentes instituições e regiões, promovendo colaborações nacionais e internacionais, para o desenvolvimento de novos trabalhos e a formação de novos pesquisadores.
A partir de 2009, o Instituto do Milênio foi substituído por um novo programa, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Informação Quântica (INCT-IQ), com apoio do MCTI, CNPq, Fapesp e outras agências. Atualmente, o INCT-IQ reúne 123 pesquisadores principais, de 25 grupos e laboratórios, em 22 instituições espalhadas em 10 estados brasileiros.
No mapa abaixo, vamos conferir exemplos de trabalhos de alguns pesquisadores brasileiros que estão contribuindo para o avanço das tecnologias quânticas. Algumas dessas pesquisas possuem um caráter mais amplo, podendo ser aplicadas em princípio a todos os tipos de tecnologias quânticas. Outras são mais focadas em tecnologias específicas, como a computação, a comunicação e o sensoriamento quânticos.
Perspectivas da tecnologias quânticas no Brasil
Durante esta reportagem especial, uma pergunta que fizemos a quase todos pesquisadores entrevistados foi: quais são suas expectativas para o futuro da área de tecnologias quânticas no Brasil? Como dissemos na introdução, muitas das respostas podem ser resumidas da seguinte maneira. O Brasil está vários anos atrasado, em relação aos países desenvolvidos. Ainda assim, o país possui um quadro de pesquisadores altamente capacitados, produzindo ciência do mais alto nível internacional. Com mais investimento na infraestrutura para pesquisa básica e aplicada, incluindo o fomento a criação de empresas startups, o Brasil tem o potencial de produzir tecnologias quânticas de ponta e se tornar uma referência mundial em diversas dessas tecnologias.
Cada entrevistado, porém, adicionou sua perspectiva única e bem informada sobre o tema, sugerindo diferentes estratégias. Apresentamos aqui uma seleção de 14 depoimentos de pesquisadores brasileiros, apontando os rumos que as tecnologias quânticas podem tomar no futuro próximo no país.